Uma mensagem para os últimos dias

Esta é a primeira questão a ser resolvida: o que é o verdadeiro arrependimento? Em segundo lugar, há outra pergunta: um povo que já está guardando os mandamentos de Deus, incluindo o sábado, e mantendo uma vida irrepreensível no que diz respeito ao comportamento moral, precisa se arrepender do quê?
A fé em Deus e seu fruto de arrependimento do pecado são o efeito natural e automático da comunhão com o Senhor. A revelação da bondade e justiça de Deus, que se alcança apenas por uma conexão ativa com Ele, é o que leva os seres humanos a se arrependerem (Romanos 2:4). Fora dessa comunhão não há verdadeiro arrependimento. Quanto mais a pessoa conversa com Deus, mais se familiariza com Ele, mais forte se torna a certeza do pecado e mais profundo e intenso é o arrependimento.
“Quanto mais nos aproximarmos de Jesus e mais claramente compreendermos a pureza de Seu caráter, mais claramente veremos a enorme malignidade do pecado, e menos motivos teremos para nos vangloriar. Haverá um constante anseio da alma por Deus, uma confissão sincera e profunda dos pecados, com um coração continuamente humilhado diante dEle. Nosso arrependimento se aprofundará a cada passo que dermos em nossa experiência cristã.”1
Sobre Enoque, a inspiração afirma que “quanto mais intimidade ele tinha com Deus, mais profundo era o conhecimento da própria fraqueza e imperfeição”.2
Não podemos criar o arrependimento. Não é algo mecanicamente projetado; não podemos produzi-lo como fazemos com outros caprichos das emoções humanas. Ele nada mais é do que o Espírito Santo tocando as cordas do coração humano, comovendo-o e dominando-o com Seu intenso poder de convicção. Assim é o verdadeiro arrependimento. A tristeza pelo pecado e o arrependimento são a resposta natural e automática do ser humano à obra do Espírito, que está sempre imprimindo na mente a beleza do caráter de Deus em Cristo Jesus. Quando o crente olha a todo momento para Jesus e abre a alma como faria a um amigo em santa comunhão, toda a justiça própria e bondade imaginárias são removidas, e a nudez do coração se revela. Aí sua alma naturalmente se prostra em contrição, em humildade e penitência plenas.
“Um simples raio da glória divina, um pequeno vislumbre que seja da pureza de Cristo, quando penetra o coração, torna cada mancha de impureza dolorosamente clara e expõe a deformidade e os defeitos do caráter humano. Os desejos não santificados, a incredulidade do coração e a impureza dos lábios ficam evidentes. Então o pecador se depara com os atos de deslealdade que praticou contra a Lei de Deus. Isso faz com que seu coração se entristeça e se aflija sob a influência examinadora do Espírito de Deus. Ao contemplar o puro e imaculado caráter de Cristo, o pecador passa a sentir nojo das próprias atitudes.”3
O arrependimento de Isaías — um modelo para a igreja de Deus do tempo do fim
Quando o profeta Isaías contemplou a glória de Deus no templo, sentiu-se profundamente impactado e tomado por um senso da própria fraqueza moral e imperfeição de caráter. O clamor desesperado do profeta foi: “Ai de mim! Porque estou perdido; porque sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios; porque os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos” (Isaías 6:5). Antes de ter esse encontro pessoal e transformador com Deus no santuário, ele já havia se sentido motivado a repreender os pecados dos outros. Com estas palavras duras, Isaías condenou os pecadores: “Ai dos ímpios! Mal lhes sucederá, porque o galardão das suas mãos lhes será dado” (Isaías 3:11). “Ai dos que chamam ao mal bem e ao bem, mal, que fazem das trevas luz e da luz, trevas, do amargo, doce e do doce, amargo. Ai dos que são sábios aos seus próprios olhos e inteligentes em sua própria opinião. Ai dos que são campeões em beber vinho e mestres em misturar bebidas” (Isaías 5:20-22).
Embora o profeta, em seu zelo por Deus, fosse levado a condenar a iniquidade predominante que o rodeava, ele ainda não estava necessariamente convencido do próprio pecado naquela fase de sua caminhada espiritual. Só naquele encontro fatídico com Deus no templo é que o profeta compreendeu a extensão de sua própria vida pecaminosa em contraste com a glória de Deus, gravada de modo tão intenso em sua mente e coração. Como resultado desse encontro inesquecível, o “Ai dos ímpios” se transformou em “Ai de mim [...]”.
“Isaías denunciou o pecado dos outros, mas agora se vê exposto à mesma condenação que pronunciou contra eles. Ele se sentia bem com uma cerimônia fria e sem vida em sua adoração a Deus. O profeta não percebeu isso até o Senhor lhe conceder aquela visão. Como sua sabedoria e talentos parecem tão mínimos agora ao contemplar a santidade e majestade do santuário. Como é indigno! Agora ele entende a enorme inaptidão e incapacidade para o santo serviço! A visão que tem de si mesmo pode ser expressa na linguagem do apóstolo Paulo: ‘Miserável homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?’““4
A igreja remanescente de Deus hoje, sendo alvo do supremo cuidado divino, é tão cega para seu verdadeiro estado espiritual quanto o profeta Isaías era antes de seu encontro transformador com Deus no templo. Seu elevado status como depositária de verdades sagradas e seu comportamento irrepreensível infelizmente fizeram com que ela pensasse estar numa posição melhor do que a atual. A estimativa que ela faz da própria condição espiritual é muito diferente da imagem que a Testemunha Fiel e Verdadeira apresenta, que diz: “Não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu” (Apocalipse 3:17). Inconsciente de fato de seu verdadeiro estado, ela exclama com confiança: “Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta” (Apocalipse 3:17). Enquanto o povo de Deus permanecer nessa atitude triunfalista e autossuficiente, enganado pela magnitude de sua suposta bondade, o Espírito Santo não poderá convencê-los do pecado. Não pode haver real, doloroso arrependimento e confissão do pecado, e nenhuma comunhão real com Deus, a menos que esse estado mental maligno seja decididamente abandonado.
Os escribas e fariseus dos dias de Jesus se orgulhavam da justiça própria que eles mesmos fabricavam. O chamado de João Batista — “Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos Céus” (Mateus 3:2) — não os impressionou. Eles consideravam desagradável o chamado ao arrependimento. Cegos pelo sentimento de superioridade espiritual por causa de sua afinidade com Abraão e com suas numerosas reformas voltadas para as obras, além de seu formalismo rígido, aqueles líderes não sentiam necessidade de um Salvador, nem de se humilhar e confessar os pecados, e muito menos de arrependimento. Jesus descreveu aqueles autoenganados mestres da religião de Seu tempo como “[...] sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia” (Mateus 23:27). Eles confundiam a obediência externa a regras e regulamentos com a justiça que brota naturalmente do interior do coração. Não conheciam nada da mansidão e humildade que se conquista apenas na escola de Cristo, que se aprende apenas pela constante comunhão com Ele.
O chamado da mensagem à igreja de Laodiceia: “Sê, pois, zeloso e arrepende-te” (Apocalipse 3:19), embora impopular, é algo que cada membro da igreja hoje deve levar muito a sério. Vivemos no tempo de Laodiceia. Portanto, esse chamado ao arrependimento é um dever atual. Deixar de atender a esse chamado resultará em ser decisivamente vomitado da boca de Cristo — um ato de rejeição total. A humilhação própria, a renúncia e a entrega de si mesmo, como as que o profeta Isaías viveu no templo ao contemplar a glória de Deus, também aparecerão na vida daqueles que atenderam ao convite para o arrependimento. Somente aqueles que, pela fé, encontrarem Deus no santuário, como Isaías fez, terão o privilégio de conhecer algo da bondade do Senhor, que os levará ao arrependimento (Romanos 2:4).
“A visão que Isaías recebeu representa o estado do povo de Deus nos últimos dias. Eles têm o privilégio de ver pela fé a obra que está ocorrendo no santuário celestial. ‘E abriu-se no Céu o templo de Deus, e a arca do Seu concerto foi vista no Seu templo’. Ao olharem pela fé ao Santo dos Santos e contemplarem a obra de Cristo no santuário celestial, percebem que são um povo de lábios impuros — um povo cuja boca muitas vezes falou vaidade e cujos talentos não foram santificados e usados para a glória de Deus. Eles podem muito bem se desesperar ao compararem a própria fraqueza e indignidade com a pureza e a beleza do caráter glorioso de Cristo. Mas se eles, assim como Isaías, receberem a impressão que o Senhor quer fazer na sua alma, e se humilharem o coração diante de Deus, há esperança para eles. O arco-íris da promessa está acima do trono, e a obra que Deus fez por Isaías também ocorrerá neles. O Senhor atenderá às petições que saem de um coração contrito.”5
A visão em que Isaías contemplou a Deus no templo é um símbolo da experiência que o povo de Deus terá nos últimos dias. Pela fé, eles terão o privilégio de seguir a Jesus até o Santíssimo do santuário. Ao comungarem com Ele e contemplarem Sua última obra no santuário, eles entenderão algo do grande amor divino ao apagar para sempre seus pecados da memória e dos livros de registro. Eles perceberão com mais clareza a profundidade da imundícia do próprio coração e a deformidade do caráter em contraste marcante com a pureza de Cristo. Como resultado, seu arrependimento se aprofundará imensamente. Suspirarão, clamarão e chorarão entre o alpendre e o altar; afligirão a alma e suplicarão fervorosamente por pureza de coração.
“Todos precisam se tornar mais inteligentes no tocante à obra da expiação, que ocorre agora no santuário celestial. Quando entenderem essa grande verdade, os que a defendem trabalharão em harmonia com Cristo visando preparar um povo para subsistir no grande dia de Deus, e seus esforços terão êxito. Pelo estudo, contemplação e prece, o povo de Deus se elevará acima dos pensamentos e sentimentos comuns e seculares, e ficará em harmonia com Cristo e Sua grande obra de purificação dos pecados do povo que ocorre agora no santuário celestial. A fé deles O acompanhará ao santuário, e os adoradores na Terra estarão cuidadosamente revisando a própria vida e comparando o próprio caráter com o grande padrão de justiça. Eles verão os próprios defeitos.”6
O pecado humano exposto — um chamado ao arrependimento
O crente arrependido de fato não tem ideia da extensão do pecado em sua vida. Ele é incapaz de entender a amplitude da culpa de suas transgressões e pecados. Portanto, nunca seu arrependimento é profundo o bastante. Por isso, ele não sabe do que se arrepender! Ele não percebe que sua dívida para com a Lei de Deus é muito maior do que seu arrependimento e confissão diários podem cobrir. Os livros de registro no santuário contêm muito mais pecados do que aqueles dos quais se arrepende e confessa todos os dias.
“A obra de todo ser humano passa por uma análise divina, e é registrada como fidelidade ou infidelidade. Ao lado de cada nome nos livros do Céu há o registro terrivelmente exato de toda má palavra, de todo ato egoísta, de todo dever não cumprido e de todo pecado secreto, com toda sua carga de astuta falsidade. Advertências ou repreensões celestiais negligenciadas, momentos desperdiçados, oportunidades perdidas, a influência aplicada para o bem ou para o mal e seus resultados de longo alcance, tudo isso consta nos registros do anjo relator.”7
Mesmo os pecados que ainda não se concretizaram estão registrados nos livros do Céu, e servirão de testemunho contra os seres humanos no dia do juízo.
“A Lei de Deus alcança os sentimentos, motivos e atos. Ela desvenda os segredos do coração, iluminando tudo o que antes estava oculto nas sombras. Deus conhece cada pensamento, cada propósito, cada plano, cada motivo. Os livros do Céu registram os pecados que teriam acontecido se houvesse oportunidade. Deus trará a juízo toda obra com todos os detalhes secretos que a acompanham.”8
Num cenário ideal, quanto mais a pecaminosidade de alguém é exposta, mais profunda será a obra do arrependimento. Infelizmente, a compreensão de uma pessoa sobre a própria pecaminosidade pode ser gravemente distorcida e até obscurecida como resultado das reformas construtivas aplicadas em sua vida durante a conversão. A introdução de mudanças positivas na dieta, no vestuário, no temperamento e no modo de agir geralmente leva muitos a pensarem (de modo equivocado) que se tornaram cada vez mais justos e, portanto, menos pecadores. Isso é o autoengano em sua melhor forma; é a essência do impasse de Laodiceia, que diz: “Rico sou, estou enriquecido, e de nada tenho falta.” Nem é preciso dizer que é muito mais fácil cair nessa armadilha do que muita gente pensa. Na verdade, essa é a condição de muitas pessoas na igreja, embora elas talvez não a percebam nem a reconheçam. Isso explica o porquê de Jesus ter dito a respeito de Laodiceia: “E não sabes [...]”. Em suma, essa atitude é deplorável e afeta profundamente o grau de arrependimento sentido.
Uma obra de profundo arrependimento deve anteceder a expiação final e a purificação
Nos últimos dias, Deus terá um povo intimamente conectado a Seu Filho no contexto de Sua obra final no Santíssimo do santuário. Eles serão levados a entender completamente a amplitude do pecado na vida até alcançarem o ponto do desespero. Eles compreenderão isso claramente em contraste com os incomparáveis encantos de Cristo. Em seguida, o Espírito Santo conduzirá os fiéis a renunciarem à mentalidade laodiceana, tão comum nas igrejas de hoje, e a experimentarem uma purificação espiritual marcada por um exame de consciência intenso e um arrependimento profundo. Essa prova será semelhante à de Isaías, exceto por ser muito mais intensa e sustentada. Essa experiência, denominada aflição de alma (Levítico 16:29; 23:27-32), é o que prepara a igreja remanescente para a expiação e purificação finais.
“A visão de Zacarias acerca de Josué e o anjo se aplica especialmente à experiência do povo de Deus nas cenas finais do grande dia da expiação. [...]““
“Assim como Josué suplicou diante do Anjo, da mesma forma a igreja remanescente, com o coração quebrantado e uma fé inabalável, suplicará por perdão e libertação por meio de Jesus, seu Advogado. Eles estão plenamente conscientes da pecaminosidade em sua vida, pois veem a própria fraqueza e indignidade; e estão a ponto de se desesperarem.”9
Uma obra de profundo autoexame e arrependimento é necessária agora. (Joel 2:13.) A prática regular de rituais e cerimônias desprovidas de sentimento e meramente formais na igreja não será bastante para que se alcance o propósito desejado. Nem a pregação habitual de sermões teóricos e sem vida, nem a apresentação de orações anêmicas e mecânicas na igreja e no lar trarão essa experiência. Apenas uma religião prática caracterizada por uma busca incessante por Deus em comunhão diária, momento a momento, e pela assimilação com Ele, é que será válida.
Uma vez que agora estamos vivendo durante o dia antitípico da expiação, não é uma época como de costume na igreja. Afligir a alma é a ordem de Cristo para a igreja remanescente. Jesus está prestes a fazer a expiação final, e a dar a ordem: “Tirai-lhe estas vestes sujas, e [...] te vestirei de vestes novas” (Zacarias 3:1–5). Em breve, de acordo com Seu último ministério no santuário celestial como Sumo Sacerdote, Jesus purificará Seu povo de toda iniquidade e pecado, conferindo-lhe Sua justiça perfeita. Aqueles que têm o hábito de lamentar o próprio declínio espiritual e chorar por sua pobreza de alma receberão Sua justiça, mas aqueles que têm sido descuidados e indiferentes serão excluídos de Seu povo.
E você? Será um dos benditos que vão receber a bênção da expiação final e farão parte dos 144 mil? Seu nome permanecerá no livro da vida do Cordeiro? Você será completa e permanentemente purificado de toda injustiça, e estará preparado para habitar na sociedade de anjos sem pecado? Que o Senhor nos considere dignos. “Sê zeloso e arrepende-te”.
“Enquanto o povo de Deus aflige a própria alma diante dEle implorando por pureza de coração, o Senhor dá a ordem: ‘Tirai-lhe estas vestes sujas’, e logo se ouvem as palavras de encorajamento: ‘Eis que tenho feito com que passe de ti a tua iniquidade e te vestirei de vestes novas’ (Zacarias 3:4). As vestes imaculadas da justiça de Cristo são postas sobre os provados, tentados e fiéis filhos de Deus. O desprezado remanescente está vestido com gloriosos trajes; nunca mais se contaminará com as corrupções do mundo. Seus nomes são mantidos no livro da vida do Cordeiro, inscritos entre os fiéis de todas as épocas. Eles resistiram às armadilhas do enganador; não se desviaram de sua lealdade por causa do bramido do dragão. Agora estão eternamente protegidos das artimanhas do tentador. Os pecados deles são transferidos para aquele que deu origem ao pecado. O Senhor põe ‘uma mitra limpa’ sobre a cabeça deles.”10